Cafuçu (conto) _ 2022

Eu estou disposto a manter a chama viva, mesmo que catando graveto. Eu ainda não quero recitar aquele soneto, o único que sei do Vinícius e que fala de separação. Não. Se depender de mim, nosso amor será um samba que a gente não perde o prazer de cantar. Por isso eu espero que você entenda, que todo sol precisa de um corpo pra bronzear e eu sou uma bola de fogo observando você forrar a canga. Então, sai da sombra desse pé de manga e traz pelo menos um caroço, faz um esforço, vê se me entende, vê se me sente. Toda fruta com fiapo precisa de uma boca pra se enroscar no dente. E eu adoro chupar e adoro morder, mas também te acaricio o quengo e arengo com quem mexer contigo. Só não torço pro Flamengo no domingo, mas todo dengo do mundo eu prometo. Cometo o absurdo de não beber na sexta-feira se você disser que me cheira todinho quando eu chegar cansado, suado e preocupado com o salário atrasado.

Com você eu fumo maconha e arrio a lombra em nossa transa; toda mansa querendo que eu lamba o sovaco, cuspa na boca e te deixe louca fazendo da sua garganta a fonte que banha nossos corpos em saliva. Você dizendo que se sente viva quando se entrega e se esfrega querendo mais. Eu já quase sem gás, mas você tem a flauta que afina o silêncio pra cantar a ascensão (ai meu coração). Você diz que eu sou safado e só isso presta em mim, mas só me safo da vida cão quando enfim seguro sua mão fora da cama. Você diz que não me ama, que é só tesão, que eu só sei transar e não tenho intelecto e nem visão (ai meu caralho); aposentei o baralho, aprendi a jogar xadrez, leio um poema por mês, mas você nenhuma vez notou minha evolução. Não sei não, viu! Vou parar de ver aquele desenho cult porque você não discute os assuntos comigo. E vive dizendo que o mundo é mais do que aquilo que há abaixo do meu umbigo. A vida é pauleira sim e parece castigo, nascer gostoso em fartura e só porque não tenho instinto pra aprender literatura e artes visuais, você não valoriza o que eu quero demais, namorar você, fazer bebê e conhecer seus pais.

E te falo mais, também tenho minhas qualidades e me orgulho delas, tenho as vivências nas favelas de onde vim e por onde passei. Eu sei pensar o chão que piso e valorizo a fundo minha quebrada como o centro do mundo, sei o sufoco de um jogo duro, sei pular muro, entendo de encruzilhada e acredito mesmo é na rapaziada. Coisa que gente de pele clarinha, acadêmica, se passando por ecumênica não atura, faz cara de gastura quando ergo meu queixo e apresento o meu desleixo proposital. É estilo marginal, sem cartilha, esse que brilha e taca na cara da sociedade que passeia na Barra com a cabeça em Miami. Eu só quero mesmo é que você me ame pra além do gozo. Pra isso te acompanho até em passeata contra o Bozo, converso com aquele assombroso do seu pai, só pra ver se a gente vai, pra ver se a gente evolui esse nosso lance e engata um romance real. Deixa de graça, vai. Deixa de graça e bora passear na praça abraçadinho. Juro que pra sair contigo não visto mais aquela camisa florida, boto um band-aid na ferida do joelho e compro um espelho semana que vem. Mas vem comigo, vem?



conto premiado na Mostra de Artes de Diadema - Prêmio Plínio Marcos 2022

Somos torcida (conto) _ 2021

Cortina entreaberta e um canela seca na mão. Do outro lado do corredor, um parceiro na mesma situação, e lá no fundo mais dois, também armados, um de cada lado do busão. O jogo de ida, pros inimigos foi o terror, no corredor abaixo da arquibancada teve porrada e a PM correu quando a primeira bomba estourou. Depois veio a segunda e a terceira, não resolveu, ficaram sem bandeira e sem faixa, pois quando a fumaça baixa quem bota a cara é nós. Somos torcida.

Hoje é o jogo de volta, a polícia exigiu dinheiro pela escolta e se depender disso não vão cheirar essa noite. Depois do pedágio qualquer presságio é ruim, a estrada escura é ruim, o tempo chuvoso é ruim... e nós também. Reduz aí motô e entra ali adiante, depois daquelas árvores tem um restaurante de caminhoneiro, servem tropeiro e sopa, mas dá pra muquiá uns biscoito embaixo da roupa se tiver sem dinheiro. A entrada tá escura... com uma viatura na frente?

– Boa noite, jente! Ôge vosseis vão sosinho né? Com fome e sosinho. Tadinho deles. Cuidado viu, a jente num vai não. Quem se mistura com porco, come farelo, dis o ditado – disse o soldado atrás do capitão, que sorria com um ar irônico.

Seguimos. Mais meia hora e chegamos na cidade. O clima é tenso, propenso pra adversidade. Evitamos passar por baixo da ponte, pegamos uma paralela a avenida que tem uma saída antes da praça, lá dá pra estacionar de graça e terminar de chegar a pé. Entre o forro interno e a lataria, a gente esconde a artilharia e segue na fé… e na mão. Motô? Atenção, quando tiver no meio do segundo tempo você vai pra porta do estádio, passa um rádio quando chegar.

No percurso caminhado despertamos os olhares no bairro mesmo sem os gritos de guerra; moradores olhando pela janela, em cima das lajes e nas portas de bar. Estrondo de rojão no ar e um grito de incentivo ao time adversário, só mais um otário querendo provocar. A caminhada segue em silêncio, todos fardados com os panos da torcida, somos quarenta e poucos, mas só uns quinze loucos linha de frente que não correm por nada. Faltando duas quadras pra chegar, a emoção começa. Dobrando uma esquina uma mina correu, “fudeu, tão armado!” foi só o que ouvi antes dos estalos. Não tinha onde esconder, encostamos na parede e veio mais três tiros. Se for oitão já acabô, vô pegá, vô pegá – disse o Baiano correndo pra cima. A gente foi atrás.

Eram só uns dez caras ou um pouco mais, a maioria a paisana, mas tinha um de bandana e regata vermelha e preta que sacou uma quadrada e apontou. Ninguém parou: vô pegá, vô pegá. Ele deu uma rajada e correu, parou lá na frente e descarregou o resto do pente. Um crente caiu e o inimigo sumiu no meio dos carros. O vacilão correu com a arma na mão. Nada demais com o tiozinho da bíblia, atravessou na frente quando o Itaim jogou nos caras uma lata de breja fechada; lugar errado na hora errada. A polícia chegou, revistou e indicou o lado de nossa entrada. 

Chegamos. Encontramos o Adriano que veio de carro particular, trazendo a faixa e duas bandeiras, mas os bambus que trouxemos não podem entrar. Na rua, muita gente a espera e um portão estreito, falta de respeito com o torcedor. Perto de um balcão improvisado na garagem de uma casa, um cara estranho à espreita. Na suspeita o Gordinho e mais três foram verificar. Não deu cinco minutos de ideia e quando o cara tirou a mão do bolso já levou o primeiro soco, alguns ingressos caíram no chão. É cambista - gritou o Bela Vista e todos fomos pra cima. Coisa rápida, o pilantra nem apanhou muito no meio do tumulto. Óh que progresso, agora o Pernambuco e o Barnabé também têm ingressos e não falta mais ninguém pra entrar. Vamos.

Arquibancada baixa, visão ruim do campo, mal dá pra ver o outro lado. A chuva engrossa, todo mundo encharcado e várias poças no gramado. Não deu outra, chutão pra tirar, chutão pra lançar, jogo feio da porra. Mesmo assim fizemos a festa e não paramos de cantar, o jogo não empolga, mas é bom pra esquentar. E parece que esquentou mesmo, é intervalo e acontece um desentendimento entre os moleques da sul e da leste, treta antiga. Separamos antes da discussão virar briga. É jogo de risco, hora de se unir pra fortalecer. O segundo tempo demora 45 anos pra terminar, foi pior que o primeiro. Quando o juiz deu o apito final, o temporal intensificou pra animar ainda mais a espera de uma hora até liberarem nossa saída.

Alguma coisa errada, nada de rádio, nada de ligação. Liberados pela PM, encontramos o motorista assustado: Entraram armados, encapuzados, levaram meu dinheiro e umas coisas que vocês deixaram aí atrás, disse ele ainda pálido. Levaram coisa pouca; uma touca, um blusão e a mochila de um vacilão que não quis carregar consigo. Podia ter sido pior, mês passado, lá no sul, quebraram o para brisa dianteiro, ficamos o dia seguinte inteiro esperando arrumar, com frio e com fome, tudo em nome dessa paixão.

Num flerte entre o coração na boca e a fala rouca, a maioria de nós atentos ao caminho de volta. Denovo a escolta não veio e o receio é que esperem em cima da ponte. A gente tem pra trocar, mas de baixo pra cima em movimento nem o capeta dá alento. “Tá vendo? Tá vendo?” Tudo muito rápido, vi quase nada pelo vidro embaçado; um carro parado lá em cima, de relance parece uma viatura apagada, vi armas apontadas…. Muito grito, estilhaço, estampidos. “Pegô em alguém? Pegô em alguém?” Arrepiou e deu até um calafrio quando alguém gritou: pegou, caralho! Pegou! Era o Cocaia num gesto de lamento e negação, avisando com o André nos braços, já sem movimento e desfazendo os laços entre perigo e diversão.

A queda (conto) _ 2019

Um banco de praça. Por ele uma mulher passa, volta, senta, acena. Coca-Cola Plus Café Expresso de graça na mão, amostra de lançamento. Ela acende um Free e um lamento alheio atrai seu olhar para o lado. Tenha um bom coração, um trago pra este pobre coitado, rogava um esfarrapado à meia distância. Os lábios finos tragam prolongadamente o cigarro e a mão se estende com a lata de Coca. Ô desgraça, isso aí eu pego ali, eu quero é o careta, diz o homem que sai xingando com seus trapos. O celular dela toca uma vez, ela tira da bolsa o Motorola, desenrola a alça da mão e identifica o número da ligação. O telefone chama a segunda vez... ela observa. A terceira vez… Estrondo de vidro, a mulher levanta num susto, ajusta o busto do vestido às pressas e com olhar fixo na esquina corre pra ver. A lata na beira do banco fica. 

Um banco na avenida principal, Itaú. Estouro na vidraça. Vai vai vai vai, vamo parça, é o que se escuta, não se sabe bem de quem em meio a correria do outro lado da praça. Na calçada uma Amarok atravessada, entrou de ré. Três homens de pé e o resto deitado no chão da agência, é o que se via a distância pelo para-brisa quebrado. Tudo rápido, questão de segundos. Moiô moiô, alguém falou. Três estalos, ninguém se levanta, o pneu canta, a picape arranca pela avenida, algo cai, ela sai pela contramão e vira à esquerda. Cáaarai, que porra foi essa? Depressa depressa. Alguém machucado? Baleado? Que que caiu? alguém viu? - muita gente fala, difícil entender o que aconteceu. 

O moleque descalço, de longe avista o que ficou no meio da pista e vai buscar. Um Nike Multicor. Com dor no coração por não ser o par, mesmo assim correu e foi pegar. Já sem o cigarro, a mulher de boca delgada, desesperada grita, aflita com o menor atravessando fora da faixa sem olhar para os lados. Embalados pela ladeira, um Mercedes Toco Baú e uma Honda CG. O motoboy ao perceber o menino desviou, seguiu. O motorista do caminhão não, freou e jogou sobre a guia. Mais um pouco e batia na banca de jornal. Parou um pouco antes, graças a grande roda que atolou na sapata de concreto fresco. Antes deixou seu rastro, abalou a estrutura que segura o mastro da bandeira nacional. Silêncio geral e olhares atentos, para o alto, para a base. A espera pelo pior. Não cai não, disse o jornaleiro com uma Veja na mão. 

Quatro e dezenove, o sol ainda brilha intenso. A jovem senhora que acabara de atravessar a avenida, acende o último do maço, tranquiliza o passo e cruza lentamente a praça com seu vestido justo - e o mastro começa a cair. Dois adolescentes parados com uma vela na mão, oração a Jah por começar, um caucasiano sem camisa com ela no braço, o outro com traços nipônicos usa boné - e o mastro caindo. Um velho preto vendendo espeto de carne, linguiça e frango, com um cachorro olhando em frente à loja Novo Mundo - e o mastro caindo. A bandeira enrosca num poste de luz, rasga. O “progresso” ficou lá no alto, na ponta do poste, junto com boa parte do verde mata. O vendedor de Ocas percebeu a tempo, saiu de banda e o mastro caiu. Caiu sobre a lata de Coca na beira do banco. O líquido, quarenta por cento a mais de cafeína, escorre, impregna no tecido, encharca as estrelas pelo chão. Restou o florão da “ordem” entre a lata que fulgura amassada e o banco quebrado.



conto premiado na Mostra de Artes de Diadema - Prêmio Plínio Marcos 2021

e publicado na antologia Pretextos Plurais pela Editora Clóe no mesmo ano.

Brincando com fogo (conto) _ 2019

Tá tudo esfumaçado e eu ainda meio chapado não consigo distinguir. Parece que vem da cozinha. Parece que dormi demais. Parece que bebi também. Minhas mãos pra trás me dão agonia. Essa tua fantasia de me ter amarrado depois de acendermos aquele prensado, me pareceu boa só no momento. Mas não lamento, pois recordo bem da sua língua em minha virilha e como brilha seu olhar malicioso botando lenha nas sensações. Recordo, por hora, mas o que me queima agora são outras provocações. Acabo de perceber que nossas posições que você tanto adora ver por outros ângulos no espelho, dão lugar a tua mensagem escrita a batom, “Dom, você apagou depois de gozar, agora fica ai amarrado esperando eu voltar. Fui comprar mais chá e fruta, vê se não surta quando acordar. Assinado: A Senhora”. Boba, nem de Alencar eu gosto. Aposto que esqueceu algo no fogo antes de sair. 

Aos poucos vou me sentindo dentro de uma cuscuzeira que secou a água e continua sobre o fogão aceso. Ainda ileso, mas em meio a tanta fumaça que se alastra pelo apartamento, um juramento ou testamento é o que parece me restar como ação. Brincadeira. Besteira minha. Herdei de família materna isso de fazer piada com coisa séria. E parece mesmo que tá ficando sério. É a primeira vez que vejo sua calcinha pegar fogo sem seu corpo dentro. E ali perto, no canto do quarto, jogada ao chão com uma parte queimada, a camisa retrô do glorioso. É de goleiro com símbolo no meio. Ao lado dele, quase sumindo, a marca da saliva, memória viva dos meus dentes em teu mamilo. Agora, nem fico com raiva e até esboço um sorriso sem graça, lembrando você, toda palhaça, fazendo versinho na frente da tevê; “eu sou melhor do que esse tal de Felipão, sou verdadeiro amor, Palmeiras é só paixão. Né coração?” Até hoje acho que o Dudu perdeu aquele pênalti porque você não me deixou ver a cobrança.

Tai, coisa que nunca houve em nossa relação; cobrança. Embora ainda me queime o peito, como o pedaço da cortina em brasa que acaba de cair sobre mim, aquela noite que você saiu com seu vizinho. O quietinho, perigoso. Você voltou com uma marca no pescoço e não me olhava nos olhos. Se não fosse nosso trato, meu relato seria de traição. Mas como poderei te condenar? Assim como dizia o vinil que agora derrete sobre a radiola velha; “se é infinita tua beleza, como podes ficar presa que nem santa num altar?”.

Agora, olha eu, quem diria, logo eu, aqui pregado numa cruz igual Jesus amarrado numa poltrona pesada. Seria de dar risada se não fosse agoniante. Imóvel como um santo, adiando o pranto do desespero que vem longe, sem disfarce sussurrando a frente de um cavalo baio sem face. Sem crença nenhuma além dos meus discos empenando na prateleira, que já esboça chamas, preciso de algo pra me apegar. Como último recurso preciso inventar um curso pra minha fé. Se assim é, me apego a você. Sim, você, meu melhor motivo pra levar essa vida que não vale os humanos que engole.

Sobre a cama, aqui do lado, onde o colchão começa a queimar, você deixou o Neruda confessando que viveu, enquanto eu pareço esperar a morte chegar da pior forma, como se esse realmente fosse um dia que vale a pena viver. Tento esquecer a canela já marcada por causa da corda apertada por essa pessoa “lúcida” que nem lembrou que temos algemas de pelúcia. Jamais aceitarei novamente inverter os papéis. Quem é Senhor, não pode abrir mão de seus anéis. Preciso manter a calma. Você não tem culpa, a culpa é dos cristãos. Preciso de mais vestígios nossos, mais resquícios de tesão, preciso de mais rastros seus. Não posso me entregar.

Meus olhos queimam, não posso mais enxergar.

Sim... a tattoo. Sua tattoo na costela escrita em francês, com aquela velha frase do Marquês que você recita quando fico lambendo ela: “o corpo é o templo onde a natureza pede para ser reverenciada”. Prefiro assim, em português, nunca fui bom em idiomas, você sabe. A não ser o nosso particular, onde palavras se intercalam com gemidos e barulho de chupadas. Se for pra morrer que seja assim, embriagado do que escorre dentre suas coxas. Ou pelo menos lembrando isso. Minha boca seca até esboça salivar. Mas cadê você? Como me embriagar pra esquecer que minha pele começa a borbulhar?

Que ironia! Eu que elegi como pior fim morrer afogado, com tudo em volta a me queimar, creio que deve ser mesmo doce morrer no mar. Não sei se creio, não sei... O Malcolm queimando na parede já escurecida, armado olhando pela janela ainda me inspira, tem que me inspirar; por todos os meios necessários eu desejo sair daqui. Mas tudo me queima. Tudo me queima como a consciência que pesa em ter mentido que não beijei sua prima, mas a mina da rua de cima eu nunca peguei. Você nunca acreditou e isso também me queima. Tudo me queima. Preciso urgente de algo mais, algo que abafe a dor, que alivie o calor. Preciso de algo. Preciso... preciso como um viciado implora a próxima pedra. Preciso... preciso como um evangélico atira a próxima pedra. Tudo queimando, tudo me queima. Era pra ser seguro, além de são e consensual, sua louca! Agora tudo me queima. Estou a um palmo do sol, sentindo as fibras da carne abrindo regadas a sal. Tudo me queima. Meu céu escurecendo, meu universo em desalinho, me queima a razão. Queima minhas mãos, tudo queima. Preciso... me queima, tudo me…



conto publicado na antologia Pretextos Plurais pela Editora Clóe em 2021.

Salve selva (poema) _ 2011

Sou príncipe distante

Herdado pela América

Um entre milhões

Que nos porões

Chegaram em vantagem numérica

 

Filho do mar e da plenitude

Elemento que forma multidão

Sou de paz e de guerra

Íntimo da terra

Que não finca os pés no chão

 

Vestido de Quinta-Feira

Atento e discreto sob a lua

A cada sono, outros ares

Cada vôo, novos lares

Permissíveis pela essência da rua

 

Vivo a natureza fecunda

A magia da flora

Que faz e acontece

Desperta e reverdece

Pelo ontem e agora

 

Tenho a força da presença

Flecha certeira intuitiva

Coração e mente

Espírito independente

Única e precisa tentativa

 

Abro caminho entre espinhos

Direções entre solidões

Carrego meu segredo

Desprovido de medo

Pelo efeito de minhas ações

 

Sempre linha de frente

Sagaz, envolto em coragem

Trago proteção na alma

Agilidade e calma

Pra completar minha bagagem

 

Regresso da escuridão

Portando suprimento pra fé

Entre cantos e dores

Conflitos e amores

Companheiro de quem é

 

Vivência e sobrevivência

Imunes a conquista material

Pelo saudável alimento

Pelo intenso momento

Por impulso involuntário natural 

Doce infância (poema) _ 2011

O tempo

Tinha cheiro de brinquedo novo

 

Descoberto a cada dia

Como figurinha em envelope

Apenas preenchia a vida

E a alegria

Reluzia como pão doce

 

Sem força pra carregar

Peso na consciência

Nem polícia pra prender

Ladrões de sorrisos

Disparando gritos de inocência

A meninice era tudo que quisesse

Maradona se três dentro fosse

Tafarel se três fora desse

 

Era compositor de gererê

Piloto de capucheta

No chão o palavrão

Escrito com vareta

 

O balão era mágico

E os sonhos

Como bolas de sabão

Bailavam no ar

 

Namoro era fácil

No meu olhar

Sem ela sequer saber

E sem beijo

Porque gostoso mesmo

Era doce de leite com queijo