Assentamento

Retalhos de lona encerada de caminhoneiro, linha encerada de poliéster e pedras. 

?? x ?? x ?? cm

ano 2015


exposições:

Apresentado de mão em mão


página em construção, em breve publicarei as fotos do projeto

Assentamento

2015


Um livro-objeto produzido a partir de uma residência artística, autônoma e ocasional, no assentamento Barra do Leme, em Pentecostes, CE. Por lá fiquei algumas semanas na casa de Ivânia e Inácio, local mais conhecido como Ciclovida.


***

No caminhar distraído a percepção do terreno. Chama minha atenção as pedras que me parecem pedaços de carne. Enquanto a poeira corre com o vento, me lembro das “pedras que choram sozinhas no mesmo lugar”. Recolho algumas. No passar dos dias, o olhar busca novas pedras e leva a outro corpo camuflado no chão. Um retalho de lona. Recolho. Pergunto aos anfitriões sobre sua origem. Disseram ser o que restou de um cata-vento artesanal, construído há alguns anos por outro viajante que passou por ali. Uma tentativa frustrada de gerar energia elétrica reaproveitando lona de caminhoneiro: “deve ter mais pedaços dela por aí”.

No caminhar atento, a busca e o encontro. Novos retalhos que me pareciam estender as asas para serem desenterrados. Com eles já lavados e estendidos sob um teto, busco encaixes, relações, possibilidades. Encontro uma figura que paira como a memória no tempo, como marca do movimento. Figura com cabeça e asas que giram, expandem-se e recolhem-se, como um errante que "pra morar, aprendeu a encolher-se". Um pulsar, um respirar. Um corpo que quando se abre, recebe o pouso dos "pássaros que chegam não se sabe de onde”.

A figura que paira como memória no tempo, traz as marcas na carne da pedra, traz as marcas na pele parda da lona; a mudança pela inércia ou pelo movimento.  O ligamento pela trama do fio que articula, segura, mas permite o movimento. Um pulsar, um respirar; medidas do tempo. Um corpo que quando se fecha, espera, demora, depura, assenta. 



referências citadas no texto:

Raul Seixas

Gaston Bacchelard

Mário Quintana