Graffiti e identidade

2002 a 2009


O graffiti contemporâneo pode ser definido como escrita ilegal no espaço urbano, daí seus primeiros praticantes serem nomeados de graffiti writers. Esse ato subversivo, uma marca no espaço urbano que dá visibilidade para indivíduos e grupos sociais, é o princípio básico dessa manifestação cultural, que vem passando por ressignificações e legitimações para atender demandas institucionais e de mercado. Daí o ato de marcar o nome pelas cidades, sem autorização para isso, ser mais significativo do que suas qualidades técnicas e visuais.

Emol é o nome que escrevi como graffiti de 2002 a 2009 e, no mesmo período, o nome com o qual eu passei a assinar meus trabalhos de arte e a me apresentar em meios sociais. Emol é uma palavra composta pelas iniciais de Emerson de Oliveira, meu nome civil ou nome de batismo. As duas possíveis origens de Oliveira, herdado de minha avó materna que se identificava como “bugre¹” e um dos três sobrenomes mais utilizados no Brasil, estão diretamente ligadas à colonização portuguesa, ora como nome toponímico herdado por famílias de certa região de Portugal, ora como nome adotado por judeus durante a Inquisição nesse mesmo país. Já o nome Emerson está diretamente ligado à colonização cultural que o Brasil, como país subalterno, ainda sofre. Foi escolhido por meu pai, em menção a um automobilista muito divulgado pela grande mídia brasileira nos anos 1970, que teve relações próximas com o regime da ditadura civil-militar no mesmo período e apoiou abertamente um candidato de extrema direita nas eleições presidenciáveis de 2018 no Brasil.

O graffiti, quanto escrita ilegal, é também um questionamento à “estética da fachada²”, essa que sustenta aparências sobre apagamentos. Dessa mesma forma, meu nome e sobrenome, além de ferramentas identificatorias são marcadores culturais, uma fachada que oculta a pluralidade das histórias e apaga culturas, encobre ancestralidades e propaga a estética da brancura. Auto nominar-me Emol é uma forma simbólica de questionamento ao processo colonizador-brancocêntrico, que se desenvolve de diferentes formas no continente americano desde o século XV, uma insubordinação simbólica do nome civil (denominação no direito) ou nome de batismo (denominação cristã), uma reinvenção que dá novos sentidos à forma de me identificar. Gosto de pensar que me apresentar como Emol é simbolicamente uma forma de graffiti, um graffiti sonoro no convívio social ou textual em suportes diversos além da rua.

 


¹ Bugre é uma designação depreciativa e ofensiva propagada pelos europeus cristãos dentre a população brasileira, para se referir aos povos originários de Pindorama e seus descendentes. 

² "Para questionar a estética da fachada" é o título de um texto de Marcia Tiburi.


São Bernardo, SP - 2003

São Bernardo, SP - 2003

Santiago, Chile - 2004

Santo André, SP - 2005

Diadema, SP - 2005

Diadema, SP - 2005

Santo André, SP - 2005

São  Paulo, SP - 2005

em algum lugar de SP - 2005

em algum lugar de SP - 2005

Diadema, SP - 2005

São Paulo, SP - 2005

Diadema, SP - 2008

Melbourne, Austrália - 2008

São Bernardo, SP - 2008 (em processo)

São Bernardo, SP - 2008 

Lanús, Argentina - 2009

Diadema, SP - 2008

Diadema, SP - 2009

Diadema, SP - 2009

São Bernardo, SP - 2009