Álbum de paisagens

2020

Desde 2009, vivo de forma errante pelo Brasil, em residências ocasionais e temporárias. Em 2020, eu visitava minha mãe em Diadema - SP, a quem relatei parte de meus planos para as próximas viagens. Ela respondeu que gostaria de conhecer alguns dos lugares que citei e combinamos de ir juntes, mas a pandemia de Covid-19 provocou a restrição social impossibilitando nosso rolê. Então, passamos a conviver em sua casa por mais de um ano.

Durante esse período, eu olhava para o projeto Caderno de Viagem (2017) e decidi aprofundar mais as experiências plásticas que nele iniciei com fita para empacotamento. Ao lidar com esse material, os resultados dos gestos rasgar-cortar-colar me sugeriram a construção de paisagens, possivelmente sob influência de meu desejo contido de contemplar as montanhas que passam lentas lá fora, pelas janelas de ônibus ou boleias de caminhão. Quando as primeiras paisagens com fita sobre papel ficaram prontas, mostrei à mamãe. As colagens dispararam nela, comparações com sua terra natal e memórias de sua imigração, partindo das roças de Minas Gerais para a São Paulo dos arranha céus, mas indo morar em um barraco de madeira na beira de um barranco, onde morei meus primeiros meses de vida.

Nessa conversa senti que meu desejo de partida, provocador para o projeto, tinha algo de continuidade na história-caminho construído por mamãe. Idas e vindas que se complementam e se cruzam num álbum de paisagens. Daí, as colagens-paisagens foram se transformando para o ambiente urbano, criando ficções e suscitando memórias do caminho construído entre o campo e o amontoado de barracos, ponto de chegada para minha mãe e ponto de origem para mim.